No mundo dos negócios, aprendemos cedo a identificar quem são os nossos concorrentes. Inicialmente, traçamos linhas de batalha, protegemos os nossos dados e lutamos por cada fração de market share. Mas, por vezes, o mercado muda de forma tão drástica que as velhas regras de guerra deixam de fazer sentido.
Por exemplo, hoje fomos surpreendidos (ou talvez nem tanto, para quem está mais atento) com a notícia da parceria entre Magazine Luiza e Americanas. Duas gigantes brasileiras, que historicamente eram rivais, agora operam como lojistas dentro da plataforma uma da outra.
Embora para um olhar desatento isso pareça desespero, por outro lado, para o olhar pragmático e estratégico, é uma jogada de mestre em maturidade de negócios.
A primeira lição é que o pragmatismo vence o ego
Durante anos, a narrativa foi Magalu vs. Americanas vs. Via Varejo. No entanto, com a entrada agressiva de players globais e asiáticos (Mercado Livre, Amazon, Shopee), o cenário mudou.
Nesse contexto, a decisão de integrar as operações da Magalu vendendo linha branca no site da Americanas, e Americanas vendendo itens de conveniência no site do Magalu, mostra que a sobrevivência e o crescimento valem mais do que o orgulho da marca própria.
Em outras palavras, isso é pensamento crítico aplicado: Se o meu concorrente tem o cliente que eu quero, e eu tenho o produto que ele precisa, por que não usar a infraestrutura dele?
A segunda lição é a clareza dos dados na prática
Além disso, reparem que na inteligência de integração, não se faz uma mistura aleatória.
- O Magalu entra com o que é forte: bens duráveis, eletrônica, logística pesada.
- A Americanas entra com o que é forte: conveniência, itens de supermercado, capilaridade de lojas físicas.
Eles usaram a clareza dos dados para entender onde cada um era insubstituível e onde eram complementares. Não tentaram ser tudo para todos. Focaram-se nos dados de venda e força logística para desenhar uma parceria onde 1 + 1 é maior que 2.
A terceira lição é a integração como novo diferencial
Como CTO e estrategista, vejo aqui um desafio que vai além do contrato assinado. Afinal, fazer com que o estoque de uma loja física apareça em tempo real no e-commerce ou App é um desafio de integração de sistemas, APIs e gestão de dados.
Na verdade, é aqui que a tecnologia deixa de ser suporte e vira o negócio. Pois, sem uma arquitetura de dados robusta e processos definidos, essa estratégia seria impossível. Dessa forma, a parceria só existe porque a tecnologia permite que sistemas distintos conversem na mesma língua.
Quer uma reflexão para a sua carreira?
Se duas das maiores empresas do Brasil conseguem deixar a rivalidade de lado para criar valor juntas, o que o impede de fazer o mesmo na sua carreira ou departamento?
Muitas vezes, ficamos presos em silos dentro das nossas próprias empresas, recusando colaborar com outros setores por disputas políticas ou ego. A nova economia não premia quem ganha sozinho. Ela premia quem tem a sabedoria de conectar pontas soltas para criar soluções mais fortes.
Diante disso, a pergunta que fica é: Quem é o seu concorrente hoje que, com a estratégia certa, poderia se tornar seu maior parceiro amanhã?
